22 de fev. de 2020

O Rock n`Roll é anglo-saxão ...

 ...e eu nasci na América Latina, Brasil.

Tupy or not Tupy? That is the question.

O presente texto é uma reflexão que sinto necessidade de fazer devido a inúmeras mudanças na minha percepção de mundo, que vão desde questões particulares à questões mais abrangentes como as transformações sociais que vieram com o advento da internet - e das redes sociais, em especial. Como o rock foi um fenômeno cultural importante para a minha formação pessoal e também é o tema deste blog, esta é uma reflexão que o terá como ponto de partida mas que pretende ir além, tentando agregar vários elementos que resultaram neste inesperado choque cultural, nesta sensação de um mundo que parece estar ficando para trás.

Em determinado momento pensei que esta sensação de que algo não é mais como era antes se devia à inevitável passagem dos anos e o aprendizado que isso nos traz. Ou seja, é natural mudar de opinião com o tempo. Mas, depois de outras cogitações, creio que não é apenas isso. Está ocorrendo nova mudança de época, de zeitgeist, creio que similar à grandes mudanças que já ocorreram, como na época da Revolução Industrial

Em um período mais adiante, após o fim da Segunda Guerra Mundial, as subsequentes transformações ocorridas no chamado primeiro mundo, notadamente nos EUA e Inglaterra, deram forma a um novo paradigma de ênfase à liberdade individual, uma crença renovada no Humanismo e uma série de rebeliões que tinham como utopia a realização de uma sociedade mais igualitária e justa.

Atualmente, essa noção parece estar mudando. Não se sabe ao certo para onde tudo aponta, mas a crescente disatisfação global, o reaparecimento de ondas xenófobas e racistas na Europa e nos EUA e a desestabilização política na América Latina demonstra, ao meu ver, que o mundo que conhecemos está ruindo. "♪ Meu mundo caiu....", já cantava Maysa. Passamos por um período de caos.

As redes sociais colocaram o mundo à descoberto, quebraram hierarquias, retiraram a tampa da panela e, com isso, temos uma visão em panorama da sociedade em tempo real. Além das crenças coletivas, muitas crenças pessoais foram quebradas. Vivemos uma época de desilusões.

Uma dessas desilusões, para a minha pessoa, foi em relação ao circuito cultural. Há um tempo tenho percebido um descompasso entre a sociedade de hoje e facetas da Arte Contemporânea, por exemplo. Como fui estudante de Artes, esse é um tema ao qual fico atenta. Acredito que a linguagem da Arte Contemporânea é algo ligado à tecnologia do século XX e o momento atual traz desafios inesperados que, ao meu ver, talvez não fossem o que se vislumbrava para o século XXI. Mas, este é um assunto que quero estudar mais e talvez escrever sobre em outro momento e não neste blog.

Outra desilusão cultural é sobre a cultura pop, em específico, o rock. Será que dessa vez o rock morreu? Se não morreu, com certeza envelhecido está. Fruto da época da comunicação de massa, que reunia imenso público em torno de ídolos mundiais, não é de hoje que essa configuração de grande público partilhando de um mesmo repertório se encontra em declínio e, com isso, também entrou em declínio parte do que era a "fruição" - vamos chamar assim - da audiência do rock: fazer parte de um imenso coletivo de fãs e saber-se parte desse coletivo tanto na sua realidade local, quanto de uma forma expandida, global.

No entanto, a internet trouxe uma configuração nova. Ao mesmo tempo que aproximou os quatro continentes, os dividiu. Permitiu a criação de bolhas de interesse e uma pluralidade não-hierarquizada de formas culturais, ou melhor, de produtos da indústria cultural.

Embora ainda existam hits do momento e ídolos mundiais, a diversidade de estilos e de formas de aderir a esses estilos hoje é a tônica. Mas, o interessante é que com isso também vem se quebrando aquele sentimento de pertença global. Cada vez mais as diferenças vêm marcando a diferença. E isso tem aparecido no âmbito da cultura não só como resultado da mudança nas formas de comunicação como também das mudanças econômicas e políticas mundo a fora.

Com tudo isso, acredito que o momento é o de procurar, cada um, sua própria identidade. Quais são suas raízes? De onde você veio? Como sua história individual se integra à coletiva?

No caso de um país subdesenvolvido como o Brasil, isso é bem importante. Especialmente porque, ao que parece, tal nação é o maior caso de complexo coletivo de inferioridade de que se tem notícia.  

Acho que para os nossos dias ainda valem as palavras de Oswald de Andrade, proferidas há quase 100 anos atrás: "Tupy, or not tupy that is the question".

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