20 de dez. de 2015

Timothy Leary: o político do êxtase - Parte 3


<segunda parte

Na década de 1960, a liberdade interna mais temida era a liberdade de explorar novos estados de consciência. Estes estados trazem abertura a novos modos comunicantes, não-lineares e não exclusivamente verbais. Isto alia-se às transformações tecnológicas que levaram à internet. Aliás, Timothy Leary posteriormente tornou-se entusiasta da Cybercultura.

A arquitetura descentralizada da internet ajuda a formar agrupações sociais também descentralizadas e a dar voz às ideologias que a defendem, sejam anarquistas, apolíticas ou neoliberais. Timothy Leary, por sua vez, era contra a divisão direita/esquerda, o que considerava uma polarização ultrapassada. O centro seria a posição mais frutífera. 

O fator de mudança preponderante para ele se situa na juventude pós-1945, acostumada desde o nascimento com o modo de percepção não-linear moldado pelas novas tecnologias da informação.

Nos anos 1960, o novo, defendido pela contracultura, era incompreendido tanto pela direita quanto pela  velha esquerda, formada por pessoas de meia-idade, acostumadas com modos de percepção lineares, cujo esquema formal de construção de mensagens ainda era o da linguagem escrita, em sua maior parte. A ascensão da imagem como importante meio de comunicação tornou a apreensão não-linear dominante.

A nova política seria centrada mais na forma do que no conteúdo, mais no impacto e na ação do que em longos discursos, como foi demonstrado pelos Yippies. A nova política deveria ser capaz de lidar com o caos ao invés de impor uma ordem.

Leary criticava o Comunismo, afirmando que é uma ideologia que vai contra a liberdade interior, mas também criticava a política de seu país com respeito a guerra às drogas, ao sistema carcerário, à tirania religiosa e, portanto, incentivava as pessoas a formarem seu próprio culto.



Em 1988, cerca de dez nos após conseguir se livrar da condenação por porte de maconha que o colocou na cadeia entre 1969 e 1976, mostra-se próximo à política mais uma vez, apoiando, o candidato republicano Ron Paul, que naquele ano concorria a Presidência pelo Partido Libertário, um partido cujo lema é unir idéias econômicas liberais com idéias de liberdade individual.

Acreditam no livre mercado, no capitalismo pós-moderno, como uma manifestação dessa arquitetura orgânica ou descentralizada (sem governo) na qual as tecnologias atualmente se baseiam. Essa crença política também é chamada de anarco-capitalismo.

A política do êxtase de Timothy Leary não é de esquerda e nem de direita, como o mesmo a define. Possui aspectos anárquicos, mas também não é anarquista. Podemos defini-la como aliada ao capitalismo pós-moderno.

É uma política a favor da total liberdade interna, mas condena o lado fraco do ser humano, o sofrimento, o fraquejo ou o medo. O prazer deve ser imediato, algo que é positivo, mas que esconde uma condição: a alienação do eterno êxtase, que podemos descrever como a alienação da sociedade do espetáculo ou o ópio do povo. 

Encerra o risco da perda de contato com a realidade social e da vontade de crítica e atuação efetiva nessa realidade, levando a crer que apenas o exílio em realidades mentais alternativas será capaz de mudar completamente a realidade concreta.





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