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20 de dez. de 2015

Timothy Leary: o político do êxtase - Parte 3


<segunda parte

Na década de 1960, a liberdade interna mais temida era a liberdade de explorar novos estados de consciência. Estes estados trazem abertura a novos modos comunicantes, não-lineares e não exclusivamente verbais. Isto alia-se às transformações tecnológicas que levaram à internet. Aliás, Timothy Leary posteriormente tornou-se entusiasta da Cybercultura.

A arquitetura descentralizada da internet ajuda a formar agrupações sociais também descentralizadas e a dar voz às ideologias que a defendem, sejam anarquistas, apolíticas ou neoliberais. Timothy Leary, por sua vez, era contra a divisão direita/esquerda, o que considerava uma polarização ultrapassada. O centro seria a posição mais frutífera. 

O fator de mudança preponderante para ele se situa na juventude pós-1945, acostumada desde o nascimento com o modo de percepção não-linear moldado pelas novas tecnologias da informação.

Nos anos 1960, o novo, defendido pela contracultura, era incompreendido tanto pela direita quanto pela  velha esquerda, formada por pessoas de meia-idade, acostumadas com modos de percepção lineares, cujo esquema formal de construção de mensagens ainda era o da linguagem escrita, em sua maior parte. A ascensão da imagem como importante meio de comunicação tornou a apreensão não-linear dominante.

A nova política seria centrada mais na forma do que no conteúdo, mais no impacto e na ação do que em longos discursos, como foi demonstrado pelos Yippies. A nova política deveria ser capaz de lidar com o caos ao invés de impor uma ordem.

Leary criticava o Comunismo, afirmando que é uma ideologia que vai contra a liberdade interior, mas também criticava a política de seu país com respeito a guerra às drogas, ao sistema carcerário, à tirania religiosa e, portanto, incentivava as pessoas a formarem seu próprio culto.



Em 1988, cerca de dez nos após conseguir se livrar da condenação por porte de maconha que o colocou na cadeia entre 1969 e 1976, mostra-se próximo à política mais uma vez, apoiando, o candidato republicano Ron Paul, que naquele ano concorria a Presidência pelo Partido Libertário, um partido cujo lema é unir idéias econômicas liberais com idéias de liberdade individual.

Acreditam no livre mercado, no capitalismo pós-moderno, como uma manifestação dessa arquitetura orgânica ou descentralizada (sem governo) na qual as tecnologias atualmente se baseiam. Essa crença política também é chamada de anarco-capitalismo.

A política do êxtase de Timothy Leary não é de esquerda e nem de direita, como o mesmo a define. Possui aspectos anárquicos, mas também não é anarquista. Podemos defini-la como aliada ao capitalismo pós-moderno.

É uma política a favor da total liberdade interna, mas condena o lado fraco do ser humano, o sofrimento, o fraquejo ou o medo. O prazer deve ser imediato, algo que é positivo, mas que esconde uma condição: a alienação do eterno êxtase, que podemos descrever como a alienação da sociedade do espetáculo ou o ópio do povo. 

Encerra o risco da perda de contato com a realidade social e da vontade de crítica e atuação efetiva nessa realidade, levando a crer que apenas o exílio em realidades mentais alternativas será capaz de mudar completamente a realidade concreta.





Timothy Leary: o político do êxtase - Parte 2

Timothy Leary Política do Extase
A política do êxtase é uma política do direito à liberdade interna, do direito de explorar e conhecer as potencialidades do próprio cérebro, de programar a própria mente e fugir do temido controle de manada, mas ao mesmo tempo encerra o risco de alienação individual.

A política do êxtase é a política do direito ao prazer absoluto, do direito de não sofrer ou de se recusar a sofrer, do direito à ampliação da consciência. Uma política que leva a realização final de que tudo está interligado. A globalização da mente. Uma proposta de vivência da realidade que é coletiva e individual em conjunto ainda com o virtual (aquilo que desejo), bem similar ao que temos hoje com a internet.

Timothy Leary chama o direito à liberdade interna de 5º Liberdade, termo que vem em adição às quatro liberdades proferidas em um discurso de Franklin Delano Roosevelt, uma ode à democracia e ao princípio fundante da independência dos EUA, de  apoio às liberdades individuais, à liberdade de expressão, que os tornou conhecidos como a "Land of the Free."

 A política do êxtase pressupõe constante mudança, pretende se configurar em uma organização que se baseia nas forças orgânicas do Universo ao invés de se pautar somente pela racionalidade. 

       A objetividade, racionalidade, especialização e a ciência tradicional eram vistos com desconfiança pela contracultura da década de 1960, e o rechaço desses valores é expresso também por Timothy Leary.  

A ciência para ele era fundamental, porém a visão científica em questão não é a mesma da sociedade tecnocrata, de racionalização exacerbada e desvinculada de aspectos humanistas, como é mostrado por Theodore Roszak em A Contracultura, publicado em 1969.

As concepções então valorizadas, não só por Leary como por todo o movimento que eclodia, eram a não-linearidade, a intuição e a mente não intelectiva ou irracional, a união de opostos ou visão despolarizada, que parte de uma concepção cósmica e não especializada (fragmentada) do todo, aquilo que se costuma chamar de visão holística.

Então, para que exista a liberdade interna é preciso que também exista uma espécie de flexibilidade social, que seria resultado do processo orgânico no qual se pretende que a sociedade esteja configurada. Leary explica que é necessário que haja estabilidade e expansão. A liberdade interna é uma força expansiva, pois questiona os limites coletivos, paradigmáticos. 

    A liberdade interna está relacionada com a experiência direta, que prescinde (ou busca prescindir) de intermediários, um evento muitas vezes espontâneo. A liberdade interna também está relacionada com a liberdade individual.

A política do êxtase, portanto, se dá na constante alternância entre estabilidade e expansão, por isso que podemos chamá-la de uma política orgânica, já que se enquadra num processo de constante mudança onde a nomenclatura evolução é mais adequada do que revolução

      A revolução é a substituição de um conjunto de idéias por outro, e evolução é esse processo constante, vai além de um fim exclusivo.

Timothy Leary Politics of Ecstasy

        Quanto maior a liberdade, maior a evolução social. Em uma sociedade repressiva, as forças que propulsionam são as mais coibidas. O autor de Politics of Ecstasy nos fala, se quisermos saber qual a direção tomar e onde estão os agentes evolucionários, que procuremos nas cadeias e nos grupos mais oprimidos.

Com isso, é possível estabelecer um parâmetro para saber se tal sociedade é mais ou menos evoluída através do quanto de liberdade interna ela permite. Em outras palavras, através da quantidade de forças expansivas que o todo consegue coordenar.

Para Leary, o estado de êxtase (bem estar absoluto) é o natural do ser humano e foi marginalizado pela lógica da culpa e pelo dogma monoteísta. A culpa é uma força limitadora do desejo, da auto-realização, que o êxtase preconiza.

Porém, tal utopia de liberdade absoluta é, de fato, uma ideia assustadora. O lado perverso que podemos encontrar no ideal de completa liberdade é que forças como o egoísmo e a manipulação, entre outras características negativas encontradas na psiqué humana, também são limites impostos por alguns à liberdade de outros tantos.

 O estado de êxtase também é um estado religioso, de descoberta espiritual, que foge ao monoteísmo como regra por não se prender a dogmas. Esse estado de êxtase, defendido por Timothy Leary, é uma experiência pessoal e, assim, não depende de intermediários, é uma experiência direta. A política do êxtase centra-se também nesse aspecto e apóia a experiência religiosa como uma revelação direta e pessoal ao alcance de todos.

O alcance desse estado pode se dar por práticas religiosas e também pela experiência psicodélica que, segundo ele, pode chegar a níveis profundos e levar à vivência de sensações atômicas, de sensações essenciais e limítrofes, experiência similar ao que é descrito pela ciência pós-Einstein

      Leary então dividiu e categorizou em sete níveis essa experiência (que depois elevou para oito), para assim melhor explicar a diversidade desses estados mentais que vão do mais elementar possível ao mais abrangente possível.

Ele também chamou tais níveis de questões básicas espirituais, cujas respostas, se encontradas simultaneamente, produziriam a experiência religiosa e o êxtase. A ciência também é capaz de produzir respostas para essas questões. Propôs, no fim das contas, a ligação entre a ciência e a experiência religiosa. 


Timothy Leary: o político do êxtase - Parte 1

Timothy Leary Middle Finger

      Timothy Leary, psicólogo norte-americano, é considerado o papa do LSD e um dos mentores da contracultura da década de 1960. Escreveu um livro em 1957, The Interpersonal Diagnosis of Personality, que lhe valeu o cargo de professor em Harvard.

O livro trata da busca por métodos não-hierárquicos na relação psicólogo-paciente, ênfase na experiência mútua e a procura por meios eficazes de alterar a realidade do paciente, retirando-o das estruturas mentais neuróticas. Foi considerada uma abordagem inovadora e encontra paralelo com a anti-psiquiatria de R. D. Laing.

Em Harvard, Leary formou um núcleo de pesquisas com a psilocibina, após uma experiência arrebatadora com os cogumelos mágicos no México, fungo de onde é extraída a substância. Essa experiência lhe forneceu a chave que procurava para uma eficaz transformação da realidade.

A partir de então, direciona suas investigações para a experimentação com os psicodélicos e também a divulgação dos benefícios dos mesmos, tendo como aliado nessa missão o poeta beat Allen Ginsberg. A dupla apresentou informalmente a psilocibina, a mescalina e posteriormente o LSD para muitos intelectuais e artistas dos EUA e Europa. 

O núcleo de pesquisa de Timothy Leary contava ainda com Richard Alpert, também professor de Harvard, que futuramente se tornaria RamDas, filósofo e guru.

A partir do momento em que Leary toma conhecimento do LSD, através do acadêmico inglês Michael Hollingshead, tal substância foi adotada como principal objeto de pesquisa. 

       Ao mesmo tempo, iniciavam-se as perseguições contra o seu grupo de estudos em Harvard, fruto da divulgação promovida nos meios da alta cultura e de alguns resultados satisfatórios em experimentos, que começaram a inquietar os defensores das terapias tradicionais.

Timothy Leary Millbrook Politics of Ecstasy

Em sua autobiografia, Flashbacks: surfando no caos, ele conta ainda que um dos motivos para a perseguição também era o interesse da CIA em descobrir técnicas de controle mental através de substâncias que poderiam facilitar esse controle e serem usadas como arma de guerra, com a finalidade de facilitar interrogatórios, técnicas de manipulação, ou promover a inutilização temporária (ou, em alguns casos, permanente) de tropas, pessoas, povoados.

O LSD era uma das substâncias pesquisada com esse fim em um projeto secreto (hoje não mais) chamado MKULTRA. O pano de fundo desse interesse militar em controle mental era a Guerra Fria.

Outro divulgador de psicotrópicos foi Aldous Huxley, através de seus livros As Portas da Percepção e Céu e Inferno. Porém, seu tom literário não visava o ganho de adeptos e nem possuía o fervor de um manifesto, como os textos e os discursos de Timothy Leary.

Uma das críticas recorrentes feitas a Leary é a de que a maneira messiânica com que conduzia o assunto era prejudicial à pesquisa e contribuía ainda mais com a desinformação promovida pela mídia sensacionalista.

Desde as primeiras décadas do século XX, já havia grande número de intelectuais e cientistas interessados na pesquisa de substâncias psicotrópicas. Boa parte acreditava que a divulgação em massa atrapalharia uma vivência mais consciente do impacto da experiência psicodélica dentro de uma sociedade que não estava acostumada a lidar com formas não-lineares de pensamento.

Mas, o grande sonho de Leary era justamente construir ferramentas para a alteração da realidade que fossem acessíveis a todos, de uma maneira pragmática, democrática e considerada por ele como não-elitista. Suas idéias de não-hierarquia e a busca por ampliações do modo de pensar e agir, levou-o a formular a Política do Êxtase, exposta em um de seus livros: The Politics of Ecstasy, de 1968. 


3 de mai. de 2015

Uriah Heep em São Paulo

Muito pesado e muito humilde 
na virada cultural


Em um sábado, dia 17 de maio de 2014, aconteceu mais uma edição da Virada Cultural, um tipo de evento que buscou inovar o formato do que se tem por entretenimento, tornando-se um misto de feira de rua com ocupação cultural e um ponto de encontro, concretizando assim um novo tipo de vivência do espaço urbano.

Um dos destaques da edição desse ano foi a banda inglesa Uriah Heep, uma das pioneiras do Heavy Metal. Em um show de cerca de 1 hora e 10 minutos apresentaram canções inéditas do novo álbum, Outsider, que saiu em Junho, e, é claro, alguns clássicos do lado B do Heavy Rock, diga-se de passagem.

Apesar de não serem tão populares, reuniram na noite de sábado um público dedicado e muitos curiosos interessados no que se passava. Tão interessados que a tradicional muvuca que se forma próximo ao palco estava mais agitada do que de costume: empurrões, estranhamentos, congestionamento humano e expressões efusivas de alegria delirante. Tudo isso era efeito da ansiedade que aumentava com o atraso do show.

No palco, o Uriah Heep, cujo único integrante original era o guitarrista Mick Box, manteve grande empatia com a multidão que os assistia. Houve sim uma interação público-artista, e a platéia, que eu me lembre, foi uma das menos alienadas que presenciei, embora também tenha sido uma das menos agradáveis.



cartaz

Gritos de gente insana, vendedores de cerveja pouco experientes, tumulto, novo princípio de turba e, consequentemente, nova busca por um lugar legal para ver o show. Uma luta tão sofrega quanto a tentativa de entrar no trem em horário de pico.

Essa experiência seria coroada durante a performance de Look at Yourself, clássico absoluto (precedida de Gypsy, do primeiro disco, de 1970), quando todos ao redor foram contemplados com uma chuva de cerveja sobre suas cabeças, orquestrada por um homem tomado pelo espírito do rock n' roll.

July Morning foi outro ponto alto, interpretada pelo carismático vocalista Bernie Shaw, na banda desde 1986. Essa canção, no entanto, automaticamente nos remete ao primeiro vocalista, David Byron, já falecido. Faltou algo da fase John Lawton.




Ghost ao vivo

Retorno da banda sueca 
ao Brasil

Ghost Papa Emeritus II foto de Kris Von D

Em 5 de setembro de 2014 a banda sueca Ghost se apresentou pela segunda vez em São Paulo, no HSBC Brasil. Agora sim, podemos dizer que houve um ritual completo, diferente da prévia do ano passado onde abriram os shows de Slayer e Iron Maiden.

Um clima ansioso contaminou a platéia 15 minutos antes do início, alimentado por incensos nos dois cantos do palco e uma música ambiente sinistra. As pessoas inquietas imploravam a abertura das cortinas.

Quando ela finalmente se abre, o cenário apresentado é o do interior de uma igreja medieval, onde os 5 Nameless Ghouls tocam a introdução que acompanha a música Per Aspera Ad Inferi, Infestissumam.

Papa Emeritus II entra em cena, o público delira. Em seguida, o ápice da abertura: a canção Ritual, do primeiro disco, Opus Eponymous. Agora sim, o teatro está completo.

Entre os pontos altos do show esteve Satan Prayer, embalada por muita devoção, Con Clavi con Dio que teve direito a incenso de mirra, Elizabeth, acompanhada por  rodas de bate-cabeça entre o público. Houve ainda provocações de Papa Emeritus em Body and Blood: "Vocês gostam de comer carne?".

Ao menos para mim, o momento mais atraente do show, de deixar de queixo caído, foi a execução de Death Knell, música que se mostrou mais intensa ao vivo do que no álbum. Talvez isso tenha acontecido porque o clima que buscam criar com o espetáculo, de repente, se traduziu perfeitamente na melodia mais arrastada, ou mais doom, de todas as suas canções. Um clássico.

O grupo mostrou grande sintonia naquele momento e Death Knell terminou com um arranjo diferente de guitarra e uma cadencia que progrediu para o pop. Pop, porém macabro. Seguida da versão de Here Comes the Sun e da instrumental Genesis, conseguiram emocionar o público com um dos melhores desfechos de álbum dos últimos anos. Quiçá, desde o Sgt. Pepper's dos Beatles? Pode ser um exagero meu.

Uma pena que, depois da sequência que encerra o álbum Opus Eponymous, veio realmente a ultima sequência de músicas do show. A platéia não se aguentava e gritava Hail Satan!, Belial, Belzebul, Satanás, Lucifer. E foram atendidos.

Seguiu-se à Year Zero o cover de Rocky Ericson, de seu álbum The Evil One (1981), If You Have Ghosts. Um pouco antes, veio um triste aviso de Papa Emeritus de que o espetáculo estava para terminar.

O bis foi uma comoção. As pessoas, em sua maioria já conhecedoras do set list, cantaram Ghuleh / Zombie Queen e imploraram o retorno da banda. Eles retornaram e e enceraram com Ghuleh /Zombie Queen, que novamente deflagrou alguns bate-cabeças, e Monstrance Clock, já de praxe.

Na introdução de Monstrance Clock, Papa Emeritus deu suas últimas mostras de carisma e simpatia da noite, explicando as intenções da canção. Erotismo, hedonismo e bom humor, conclamando a platéia a cantar junto, balançando num só ritmo, aquele ritmo bom que leva ao orgasmo. Apropriado para uma sexta à noite, afinal, esse é o cerne do rock n' roll.

26 de mai. de 2014

Iron Maiden e Ghost

Uma turnê que marcou época















Um evento tão bom quanto o Rock In Rio, que aconteceu em setembro de 2013, foi a turnê do Iron Maiden pela América Latina ostentando duas atrações de abertura: a banda Slayer e o grupo Ghost, grande novidade para o público mainstream naqueles dias. Após a conturbada venda de ingressos para o Rock In Rio, onde o Ghost seria uma das principais atrações, muita gente não os teria visto, e nem ao Slayer, não fosse a turnê do próprio Maiden.

Em um gélido fim de tarde, os nameless ghouls e Papa Emeritus II sobem ao palco em Curitiba, no Bioparque, em 24 de setembro. O público daquela tarde foi o que melhor os recebeu, apesar de algumas vaias e gritos de Slayer! Slayer!, mas nada comparado à rudeza em São Paulo, no inóspito Anhembi, onde quem não teve o privilégio da Pista Premium não viu nada, ouviu muita zoação e se esbarrou em um público mal educado, que não fazia questão alguma de facilitar a vista para quem desejava muito ver o Ghost, em meio a gritos de Maiden! Slayer! Padre Quevedo! Na casa do senhor não existe satanás!, empurrões e gases fétidos. Gente porca!


Além disso, durante a apresentação do Iron Maiden em São Paulo, o público teve que se dividir entre assistir o show, pular poças d'água e encontrar um melhor local para ficar, tudo devido a um vazamento que inundou a pista. Momentos depois, um vazamento de gás afugentou novamente as pessoas. Péssimo! Mas, como todos ali estavam unidos com um só objetivo, não foi difícil assistir ao Iron Maiden, como o foi durante o show do Ghost. 


Já em Curitiba, a recepção foi melhor. Em uma apresentação bem curta, como em São Paulo, o Ghost tocou uma mescla de seu primeiro álbum, o clássico Opus Eponymous, e do segundo, Infestissumam, lançado em abril de 2013. A impressão que essas apresentações deixaram é que a Ghost é uma banda que precisa de um cenário específico para brilhar em todo o seu potencial. Tocar ao vivo em grandes locais e com um público imenso, cria uma expectativa que demanda muita empatia entre a massa e o artista. Assisti-los ao vivo, nessas condições, não teve o mesmo efeito que se experimenta ao ver um daqueles vídeos, de cenário intimista, que quase cria um verdadeiro ritual.

Apesar da falta de um pouco mais de empatia, o que pôde se dever à alguma timidez da banda e ao descompasso com um público grande e em sua maioria hostil, o show foi muito bom e contou com a participação acalorada daqueles que foram lá para vê-los. Ao anoitecer, uma névoa colorida pelas luzes do palco criou um clima ótimo para a execução de Ritual. O grupo finalizou com Monstrance Clock, uma baladinha sinistra, que requer a participação de todos para melhor compor o culto, segundo o pedido de Papa Emeritus II. Ao deixarem o palco, ficou um certo pesar de que talvez demorem um bocado para retornar à América Latina, apresentando seu próprio estilo de evento.


Seguindo a agenda, depois do Slayer (que homenageou Jeff Hanneman), vem o Iron Maiden, que dispensa comentários. Incrível! Por falar em cenário, o show que apresentaram durante essa turnê foi ousado: labaredas e fogos de artifício esquentaram o público na noite fria. O repertório contou com Seventh Son of a Seventh Son, Wasted Years, Fear of the Dark, The Trooper, Number of the Beast, Can I Play with Madness, entre outras, encerrando lindo com Aces High. 

Em alguns momentos, Bruce Dickinson demonstrou um pouco de cansaço, deixando de cantar as notas mais altas, sua marca registrada da juventude. Infelizmente, se formos comparar o Iron de hoje com aquele que se apresentou no Rock In Rio de 1985, é óbvio que falta um pouco daquela vitalidade enorme :P Mas, é como disse alguém: o Iron Maiden de bengala ainda é melhor do que muito do que tem por aí. Para encerrar, ficou o desejo de levar o cachecol de Bruce para casa ;)



21 de mai. de 2014

Mayhem no Hangar 110

Pure Fuckin' Amargeddon

Um show de black metal é um evento que pode gerar apreensão para os curiosos e grande expectativa para o público fiel, ainda mais quando se trata do maior nome do gênero, a banda norueguesa Mayhem. Formada em 1984, já está em sua terceira década de existência, marcada por uma trajetória digna de um drama lúgubre, muito bem traduzido pelo clima das músicas.

O único show em solo brasileiro, da turnê promovida durante 2013, teve lugar no Hangar 110, em São Paulo, importante local do circuito underground da cidade, no dia 5 de Dezembro.


O dia de calor infernal seguido por chuva forte que pegou de surpresa quem estava na fila, também fez jus à agressividade da música que todos esperavam celebrar. A abertura foi da banda Test, um duo de bateria e guitarra/vocal que faz um som punk/heavy extremo. São conhecidos por tocar pelas ruas de São Paulo "sequestrando" a platéia de grandes shows de Heavy Metal, durante o tempo de espera nas filas ou na saída dos eventos.

Pouco tempo após a apresentação de 30 minutos do duo Test, sobe ao palco o Mayhem. Apresentaram ao público uma performance espetacular, com clássicos como Death Crush, Freezing Moon e Pure Fucking Amargeddon.

Um público pequeno em uma casa de show de médio porte e uma banda incomum proporcionaram uma experiência direta, regada a muitos moshs, exaltadas rodas punk e alguns Fuck You!, proferidos em tom de saudação por Attila Csihar e Necrobutcher.

Um intenso show de luzes estrobo acompanhou a maior parte do repertório e, na falta de cabeças de porcos como parte da ambientação, o vocalista Attila Csihar completou o cenário com sua característica performance ao lado de uma caveira, apresentando-a ao público numa espécie de "benção". Seria um crânio humano verdadeiro ou falso?

O show, que durou 1 hora, encerrou com a destruidora Pure Fucking Amargeddon. Ao que parece, shows curtos, assim como
discos com duração entre 30 minutos em média, são a tônica de muitas vertentes underground.


Para os que conhecem um pouco menos, a banda Mayhem foi formada pelo baixista Necrobutcher e o baterista Manheim. Contou com o lendário guitarrista Euronymous, principal mentor da cena Black Metal, e ainda com o vocalista Dead, que se suicidou em 1991. Euronymous foi assassinado por Varg Vikernes do Burzum, em 1993.

A formação que se apresentou em São Paulo teve HellHammer na bateria, substituto de Manheim em 1988, Necrobutcher no baixo, Attila nos vocais, substituto de Dead em De Mysteriis Dom Sathanas (1994) e Teloch na guitarra, ex-Gorgoroth. O show contou ainda com um encapuzado guitarrista misterioso, chamado Charles Hedger.


Set List
Silvester Anfang
Pagan Fears
Buried by time and dust
Death Crush
Ancient Skin
My Death
A time to Die
Illuminate Eliminate
Symbols of Bloodswords
Freezing Moon
Carnage
Pure Fucking Armagedon


19 de mai. de 2014

Sabbath Bloody Sabbath

Sol escaldante e gente de preto em Ipanema



No dia 13 de Outubro de 2013 aconteceu na cidade do Rio de Janeiro uma apresentação histórica dos pais do Heavy Metal, Black Sabbath, em sua formação 75% original.

Uma apresentação histórica, pois se tratava de uma das raras chances do público brasileiro presenciar uma performance que guarda o espírito daquilo que se chamava de rock no final dos anos 1960, quando isso significava fazer parte de um movimento transgressor.

Em duas horas de espetáculo, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e um talentoso substituto de Bill Ward, demonstraram que sabem manter empatia com o público, sendo que Ozzy, ao vivo e aos 65 anos de idade, confirma que é um dos melhores front-man de que já tivemos notícia.

Tal aura foi sentida e celebrada por uma multidão que lotou a Praça da Apoteose, no sambódromo, espaço dedicado ao carnaval e ao samba, mas que, naquele momento, prestava-se a um excelente intercâmbio entre culturas.

Houveram algumas ocorrências inusitadas, como uma mulher que soltou uma pomba em direção ao palco (um ato estúpido), um morcego de plástico mordido por Ozzy, bem humorado e ostentando invejável loucura boa (afinal, ele é o mad man) e nos ensinando, entre uma música e outra, que uma brincadeirinha ajuda a relaxar. Cucko! Que a água refresca foi o aprendizado daqueles que estavam na primeira fila.



Finalizando a sequência de eventos não-ordinários, no término do show Geezer Butler misteriosamente sai de cena e não retorna ao palco para a despedida, deixando Ozzy intrigado e se movendo para procurá-lo com seu jeito lesado e ozado de andar, aquele que culmina com "Sharon!".

Geezer, que não é Sharon, não apareceu mais, o que não diminuiu a maravilha vivenciada por todos. Depois, a explicação: ele estava enjoado e correu para vomitar. Bravo! Lutou até o fim \m/

Para quem estava nas arquibancadas, a visão era ótima, embora não fosse possível ver todo o telão e o cenário, mas os músicos, ninguém perdia de vista.

Fica aqui um reclame para a sacanagem da Pista Premium, cara e excludente, pois, por ser próxima do palco, é o lugar em que a mágica do evento realmente acontece.

Quem fica lá no fundo não vê muita coisa, ou melhor, não vê nada.

Porém, a originalidade do Black Sabbath não deixa dúvida de que o poder de sua música executada ao vivo comoveu aqueles que só puderam ver a cara do amigo e a dos que tumultuavam um pouco mais a frente, acolhendo a todos numa celebração sinestésica, onde ver as lendas é muito importante, mas não é tudo. Sentir a música ao vivo aguça a percepção.



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