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18 de nov. de 2012

More (1969) - Barbet Schroeder

Se a bomba detonar certifique-se de estar mais detonado do que a bomba
cartaz

Este é um filme belo-trágico que se passa em Ibiza no final da década de 1960, retratando o lado junkie e desesperançado da revolta contracultural.

Um estudante alemão cansado da rotina e da falta de sol aventura-se pedindo carona e acaba em Paris, na companhia de um amigo trambiqueiro que lhe faz um convite para uma festa.


cena clássica

Nesta festa ele conhece uma norte-americana que já está acostumada a dar seus "pulos" na vida. Tanto que logo após a garota parte para Ibiza, sem lenço e sem documento



O jovem alemão, completamente obcecado por ela, segue-a freneticamente até descobrir seu paradeiro em Ibiza.



Aí então ele começa uma saga de descobertas ilícitas, entre elas o duplo-sentido atribuído à palavra horse: Heroína. 


More (Pink Floyd) - 1969

A trilha sonora fica a cargo do Pink Floyd, em um álbum onde algumas faixas lembram o grupo Blue Cheer



O lado negro e underground do Power Flower encontrava sua fonte de inspiração não só na Bad Trip lisérgica como também no drama da heroína.


cena do filme

Sobre a heroína e a década de 1960 há ainda os relatos de Andy Warhol e Velvet Underground, Marianne Faithfull e sua canção Sister Morphine, regravada pelos Stones em Sticky Fingers (1970). 

Também conhecemos o drama de Gram Parsons e o livro de William Burroughs.


Junkie - 1953


Viciado em heroína, o protagonista do filme segue pedindo por mais. Sua obsessão crescente pela jovem norte-americana e o estilo de vida marginal de ambos são exemplos que confirmam o tom romântico do exílio em que embarcam.



cena do filme

Embora seja possível encontrar romantismo, o filme de Barbet Schroeder é muito realista. Tão realista que o aspecto de época às vezes chega a desaparecer e vemos um autêntico drama contemporâneo que foge ao datado.


cartaz de The Valley

A parceria entre Schroeder e Pink Floyd resultou em mais um filme: The Vallley (1972), cuja trilha se encontra no disco Obscured by Clouds (1972).


Obscured by Clouds - Pink Floyd (1972)


Fontes

4 de out. de 2012

The Fool: ícones da arte psicodélica

Coletivo artístico holandês e o design lisérgico dos anos 1960
The Incredible String Band: The 5000 Spirits or The Layers Of The Onion - 1967
capa feita pelo The Fool

No início, a dupla de artistas e mochileiros Simon Posthuma e Marijke Koger estabeleceram seu trabalho nas cidades de Madrid e Ibiza, na Espanha. 

Marijke Koger e Simon Posthuma

Segundo fontes, em 1966 o fotógrafo Karl Ferris, famoso por ter registrado Jimi Hendrix, Cream, Donovan e outros, descobriu a dupla em meio a uma comunidade hippie em Ibiza.

Capa do álbum Evolution (1967) da banda The Hollies

Surgiu então o convite para trabalharem em Londres e assim, migraram da paradisíaca cidade espanhola com o objetivo de introduzir cores vibrantes no cinzento mundo urbano. 

Roupas para os Beatles

Quando já estavam atuando na capital inglesa, acabaram chamando a atenção de John Lennon e Paul McCartney, pois haviam desenhado roupas e capas de disco para bandas como The HolliesCream.

Roupas para o Cream

Uma instalação que montaram em sua casa - e também atelier -, chamada de Wonderwall, despertou o interesse de John e Paul durante a visita que fizeram à Simon e Marijke. 

Um tempo depois, tal obra inspiraria o filme Wonderwall (1968) do diretor Joe Massot, que teria o cenário também produzido pelo The Fool.

Guitarra para Eric Clapton

Marijke Koger era uma leitora de tarô, o que pode explicar a escolha do nome para o coletivo. The Fool (que em português significa O Louco) é a carta de número zero do baralho mântico. 

Carta O Louco no Rider-Waite tarot deck 

A carta simboliza o estágio inicial da vida, onde há uma sensação de completude ingênua e por isso corajosa, que segue seu caminho sem desconfiança ou temendo consequências. Tudo a ver com o espírito da contracultura.


Um dia Marijke Koger tirou as cartas para Paul Mccartney, e pode ser que isto tenha influenciado a canção Fool on the Hill.


Roupas para o Procol Harum

A primeira capa para Sgt. pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) foi projetada pelo The Fool, que então já contava com outros artistas (Jsje Leger e Barry Finch) e agora eram propriamente um coletivo.


Capa para o The Move - 1967

A capa, na verdade uma pintura, teria uma paisagem psicodélico-surrealista e alguns espaços em branco, que seriam posteriormente preenchidos com a caricatura dos fab-four

Pintura rejeitada para a capa de Sgt. Pepper's

No entanto, por razões de desagrado ao produtores da EMI, a capa foi vetada. O projeto da capa foi passado então para o artista pop inglês Peter Blake.

Sgt. Pepper's - design interno

Porém, o design interno continuou à encargo do The Fool, que criou uma padronagem ondulada e monocromática, complementando o encarte lúdico-interativo de Peter Blake.

O encarte de Peter Blake

A fachada da apple boutique (a loja-conceito dos Beatles que funcionou entre 1967 e 1968), também idealizada pelo coletivo, é uma obra que se configurou numa gigantesca pintura mural multicolorida, cujo efeito foi ainda mais ressaltado devido ao entorno de cores neutras. 


Este é um tipo de trabalho mural que antecede o graffiti como fine-art. Pena que tenha sido apagado tempo depois, por causar tumulto no trânsito devido ao seu impacto visual.





Além de produzir vários artigos de design como roupas, capas de disco, decoração de objetos e cenários, também lançaram o próprio disco homônimo The Fool, em 1968.

The Fool - 1968

Recentemente, Simon Posthuma lançou sua autobiografia:  A Fool such as I

25 de jul. de 2012

Light Shows: experiência imersiva lisérgica - parte 3

3º parte: A cor do som, o som da cor e a mágica caleidoscópica
Lumigraph

Um exemplo antiquíssimo da ideia do light show como a tradução (ou equivalência) visual da música, pode ser encontrado no Século 18 através da criação dos 'orgãos coloridos', em inglês, Color Organ.



Isto surge de um desejo primitivo do ser humano de encontrar a cor correspondente ao som; a cor do som, a sinestesia ou a ligação e equivalência entre os sentidos.



A ideia, ou projeto, do color organ era a de que para cada tecla do órgão atribuía-se uma cor. Quando a música era tocada, o bater das teclas descortinaria uma fita colorida ou um vidro colorido,estabelecendo assim a dinâmica visual da música.

Cada cor equivaleria a uma nota musical por meio de suas frequências.


Efeito da Clavilux de Thomas Wilfred 

No século 19, as teorias da cor levantadas pelos Impressionistas e a luz elétrica já permitia pensar em uma tecnologia mais integrada, ideia essa que levaria ao desenvolvimento do cinema.



No século 20, os Color Organs já não dependem mais da existência de um instrumento de verdade, são apenas caixas de led com sensores que captam a vibração de qualquer música e as traduz em cor e movimento.


Lumigraph Film (c. 1969) by Elfriede Fischinger (excerpt) from CVM on Vimeo

Um efeito simples e mágico, a ideia do light show, através da engenharia, assumiu muitas formas, o que foi chamado de cinema expandido por Gene Youngblood.



Mark Boyle e seu Sensual Laboratory fizeram shows lisérgicos em galerias de arte londrinas e no UFO, principal clube da cena psicodélica de Londres. Nestes shows incluíam variados tipos de Color Organs, além da técnica dos projetores e gelatinas coloridas.


USCO: Difrator Hexagonal

Além do UFO e das galerias, acompanharam diversos shows de bandas como Pink Floyd, Soft Machine e Jimi Hendrix Experience. Nada mais, nada menos.



Além do coletivo USCO e do coletivo de Mark Boyle, também tivemos Andy Warhol trabalhando com o mesmo meio.


Exploding Plastic Inevitable

Unindo-se ao Velvet Underground e às suas Superstars, Andy Warhol criou o Exploding Plastic Inevitable.


Exploding Plastic Inevitable

Haviam muitos outros coletivos de Light Show: Sahara Farm, The Joshua Light Show, The North American Ibis Alchemical Co., Retina Circus, e mais uma infinidade. 


Um Livro Raro

Essa era uma arte dionisíaca, baseada na experiência direta e no conhecimento através dos sentidos, completamente não-tecnocrata e sim tecno-psiconauta.




Fontes
Robert E. L. Masters e Jean Houston: Psychedelic Art - Um Livro raro sobre a arte psicodélica
Visual Music - tudo sobre os Color Organs
The Breaks - Oscar Fischinger, o inventor do Lumigraph (ou Color Organ)


20 de jul. de 2012

Light Show: experiência imersiva lisérgica - parte 2

2º Parte: "Saia de sua mente para usar sua cabeça". Ou ainda: A mensagem do meio é o efeito da alucinação
matéria de capa sobre a exposição Us down By the Riverside - 1966

Este sobrecarregar dos sentidos se dava pelo bombardeamento de inúmeros tipos de estímulos: 

Música, ruído, luz estrobo, máquinas que emitiam luzes, poemas luminosos, discos cinéticos, televisores, osciloscópios, poltronas giratórias, pinturas visionárias mescladas a pontos de Led, etc. 

Uma completa sinestesia.


USCO: Fanflashtic, instalação - 1968

Este carregamento sensório era feito com o objetivo de levar a pessoa à um estado alterado de consciência.


USCO: Difrator Triplo - 1964-1966

A base intelectual de muitos dos intuitos do USCO estava centrada nas idéias do professor canadense Marshall McLuhan, famoso pela sua máxima "o meio é a mensagem".


The Joshua Light Show e uma apresentação de Frank Zappa

McLuhan afirma que o impacto causado pelos meios de comunicação são a sua real mensagem, e não o conteúdo que veículam. 



O conteúdo, é claro, pode ser bom ou ruim, mas as transformações sociais geradas pelos meios independem deste conteúdo.


Richard Aldcroft: 'Infinity Projector' - 1966

McLuhan afirma ainda que há meios quentes e meios frios. Os meios quentes tendem a gerar estados hipnóticos pois demandam muita atenção, são meios com muita informação e por isso põem a pessoa num estado passivo. 


Poster de divulgação do clube canadense Retinal Circus -
literalmente Circo da Retina.

Exemplos dados de meio quente são a imprensa escrita e o rádio.



Os meios frios tendem a gerar estados alucinatórios pois demandam participação. Isto porque são meios pobres de informação, ás vezes rústicos, ou porque a imagem ou o som emitido possui pouca qualidade. 


Richard Aldcroft: 'Infinity Projector' - 1966

Nada está definido, exigindo que a pessoa complete a informação ou se esforce mais para compreende-la, gerando assim pleno envolvimento, do qual nem sempre somos conscientes. Exemplos dados de meio frio são o telefone e a TV.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Como vimos, a tecnologia da informação é capaz de alterar nossa percepção do mundo, tal qual os alucinógenos. 


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Por isso, os meios tecnológicos foram os empregados pelos coletivos de Light Shows para fazer com que a consciência normal cedesse, criando assim uma experiencia similar a do LSD, por meio do 
bombardeio de estímulos.

Chamava-se a atenção para o fato de que o ambiente saturado de mídias, em que se vive numa sociedade industrial, é um ambiente de constante
bombardemento sensorial, repleto de mensagens dirigidas a todos os sentidos, grande parte delas produzidas pela Publicidade.



O light show em si é um meio frio, exigindo a participação.

Além do show de luzes propriamente dito, um light show deve contar com música e performances, melhor dizer Happenings, por serem mais espontâneos.



Um dos primeiros happenings psicodélicos foi o de Ken Kesey e seus Merry Pranksters e os famosos testes do ácido: os merry pranksters distribuíam LSD (quando este ainda era Legal) para as pessoas que se aglomeravam nos testes, aos som de Grateful Dead. Uma atitude provocante à CIA e seu MKUltra.


The Joshua Light Show at the Fillmore East

Os Light Shows aconteciam tanto em galerias de arte quanto em shows de rock, clubes e discotecas ou palestras teatrais de Timothy Leary.


USCO: para a instalação Tabernáculo - 1966

São os precursores das raves e de qualquer showzinho de luzes que acompanhe uma apresentação musical.




Continua

1º Parte

Fontes
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