25 de jul. de 2012

Light Shows: experiência imersiva lisérgica - parte 3

3º parte: A cor do som, o som da cor e a mágica caleidoscópica
Lumigraph

Um exemplo antiquíssimo da ideia do light show como a tradução (ou equivalência) visual da música, pode ser encontrado no Século 18 através da criação dos 'orgãos coloridos', em inglês, Color Organ.



Isto surge de um desejo primitivo do ser humano de encontrar a cor correspondente ao som; a cor do som, a sinestesia ou a ligação e equivalência entre os sentidos.



A ideia, ou projeto, do color organ era a de que para cada tecla do órgão atribuía-se uma cor. Quando a música era tocada, o bater das teclas descortinaria uma fita colorida ou um vidro colorido,estabelecendo assim a dinâmica visual da música.

Cada cor equivaleria a uma nota musical por meio de suas frequências.


Efeito da Clavilux de Thomas Wilfred 

No século 19, as teorias da cor levantadas pelos Impressionistas e a luz elétrica já permitia pensar em uma tecnologia mais integrada, ideia essa que levaria ao desenvolvimento do cinema.



No século 20, os Color Organs já não dependem mais da existência de um instrumento de verdade, são apenas caixas de led com sensores que captam a vibração de qualquer música e as traduz em cor e movimento.


Lumigraph Film (c. 1969) by Elfriede Fischinger (excerpt) from CVM on Vimeo

Um efeito simples e mágico, a ideia do light show, através da engenharia, assumiu muitas formas, o que foi chamado de cinema expandido por Gene Youngblood.



Mark Boyle e seu Sensual Laboratory fizeram shows lisérgicos em galerias de arte londrinas e no UFO, principal clube da cena psicodélica de Londres. Nestes shows incluíam variados tipos de Color Organs, além da técnica dos projetores e gelatinas coloridas.


USCO: Difrator Hexagonal

Além do UFO e das galerias, acompanharam diversos shows de bandas como Pink Floyd, Soft Machine e Jimi Hendrix Experience. Nada mais, nada menos.



Além do coletivo USCO e do coletivo de Mark Boyle, também tivemos Andy Warhol trabalhando com o mesmo meio.


Exploding Plastic Inevitable

Unindo-se ao Velvet Underground e às suas Superstars, Andy Warhol criou o Exploding Plastic Inevitable.


Exploding Plastic Inevitable

Haviam muitos outros coletivos de Light Show: Sahara Farm, The Joshua Light Show, The North American Ibis Alchemical Co., Retina Circus, e mais uma infinidade. 


Um Livro Raro

Essa era uma arte dionisíaca, baseada na experiência direta e no conhecimento através dos sentidos, completamente não-tecnocrata e sim tecno-psiconauta.




Fontes
Robert E. L. Masters e Jean Houston: Psychedelic Art - Um Livro raro sobre a arte psicodélica
Visual Music - tudo sobre os Color Organs
The Breaks - Oscar Fischinger, o inventor do Lumigraph (ou Color Organ)


20 de jul. de 2012

Light Show: experiência imersiva lisérgica - parte 2

2º Parte: "Saia de sua mente para usar sua cabeça". Ou ainda: A mensagem do meio é o efeito da alucinação
matéria de capa sobre a exposição Us down By the Riverside - 1966

Este sobrecarregar dos sentidos se dava pelo bombardeamento de inúmeros tipos de estímulos: 

Música, ruído, luz estrobo, máquinas que emitiam luzes, poemas luminosos, discos cinéticos, televisores, osciloscópios, poltronas giratórias, pinturas visionárias mescladas a pontos de Led, etc. 

Uma completa sinestesia.


USCO: Fanflashtic, instalação - 1968

Este carregamento sensório era feito com o objetivo de levar a pessoa à um estado alterado de consciência.


USCO: Difrator Triplo - 1964-1966

A base intelectual de muitos dos intuitos do USCO estava centrada nas idéias do professor canadense Marshall McLuhan, famoso pela sua máxima "o meio é a mensagem".


The Joshua Light Show e uma apresentação de Frank Zappa

McLuhan afirma que o impacto causado pelos meios de comunicação são a sua real mensagem, e não o conteúdo que veículam. 



O conteúdo, é claro, pode ser bom ou ruim, mas as transformações sociais geradas pelos meios independem deste conteúdo.


Richard Aldcroft: 'Infinity Projector' - 1966

McLuhan afirma ainda que há meios quentes e meios frios. Os meios quentes tendem a gerar estados hipnóticos pois demandam muita atenção, são meios com muita informação e por isso põem a pessoa num estado passivo. 


Poster de divulgação do clube canadense Retinal Circus -
literalmente Circo da Retina.

Exemplos dados de meio quente são a imprensa escrita e o rádio.



Os meios frios tendem a gerar estados alucinatórios pois demandam participação. Isto porque são meios pobres de informação, ás vezes rústicos, ou porque a imagem ou o som emitido possui pouca qualidade. 


Richard Aldcroft: 'Infinity Projector' - 1966

Nada está definido, exigindo que a pessoa complete a informação ou se esforce mais para compreende-la, gerando assim pleno envolvimento, do qual nem sempre somos conscientes. Exemplos dados de meio frio são o telefone e a TV.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Como vimos, a tecnologia da informação é capaz de alterar nossa percepção do mundo, tal qual os alucinógenos. 


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Por isso, os meios tecnológicos foram os empregados pelos coletivos de Light Shows para fazer com que a consciência normal cedesse, criando assim uma experiencia similar a do LSD, por meio do 
bombardeio de estímulos.

Chamava-se a atenção para o fato de que o ambiente saturado de mídias, em que se vive numa sociedade industrial, é um ambiente de constante
bombardemento sensorial, repleto de mensagens dirigidas a todos os sentidos, grande parte delas produzidas pela Publicidade.



O light show em si é um meio frio, exigindo a participação.

Além do show de luzes propriamente dito, um light show deve contar com música e performances, melhor dizer Happenings, por serem mais espontâneos.



Um dos primeiros happenings psicodélicos foi o de Ken Kesey e seus Merry Pranksters e os famosos testes do ácido: os merry pranksters distribuíam LSD (quando este ainda era Legal) para as pessoas que se aglomeravam nos testes, aos som de Grateful Dead. Uma atitude provocante à CIA e seu MKUltra.


The Joshua Light Show at the Fillmore East

Os Light Shows aconteciam tanto em galerias de arte quanto em shows de rock, clubes e discotecas ou palestras teatrais de Timothy Leary.


USCO: para a instalação Tabernáculo - 1966

São os precursores das raves e de qualquer showzinho de luzes que acompanhe uma apresentação musical.




Continua

1º Parte

Fontes

Light Show: experiência imersiva lisérgica

1º Parte: A desconstrução da consciência através do bombardeamento sinestésico

Mark Boyle's Sensual Laboratory - 1967
Uma das mais populares expressões da vanguarda artística psicodélica, que marcou os âmbitos underground da arte nos anos 1960 foram os light shows (show de luzes).

Os light shows consistiam em projeções coloridas dos mais variados tipos, aliadas à música e à performance, tanto de artistas e músicos quanto do próprio público.


Mark Boyle's Sensual Laboratory - 1967
As projeções eram feitas com gelatina e outros líquidos coloridos, que eram prensados por duas lentes de vidro, colocadas sobre os projetores.

Com o calor da luz as gelatinas derretiam e se misturavam formando manchas coloridas em movimento



A habilidade do artista que montava estas projeções garantia enorme variedade de efeitos caleidoscópicos. 

USCO: Us down by the Riverside

Claro que, em tudo, o acaso e o caos eram elementos seriamente levados em consideração. Outros tipos de light shows eram conseguidos através das luzes estroboscópicas

Mark Boyle e Joan Hills numa de suas projeções fluídas - 1966

Muitas das máquinas usadas para projeção eram especialmente desenvolvidas pelos engenheiros-artistas que sempre compunham os coletivos de Light Shows.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Dentre os mais famosos estavam o grupo USCO, de Nova Iorque, e o grupo Mark Boyle's Sensual Laboratory, do artista inglês Mark Boyle e sua esposa Joan Hills.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

USCO era uma abreviação para Us Company (Nós Companhia, ou Companhia de Nós), um coletivo que reunia pintores, poetas, videomakers, engenheiros, performers e vários tipos de artistas.


USCO: Shiva, da instalação Tabernáculo - 1966

Este coletivo foi um dos mais experimentais, levando a experiencia do Light Show para além do encantamento lúdico/hipnótico que promovia aos shows de rock.


Instalação Tabernáculo - 1966

O intuito de suas instalações era o de sobrecarregar de estímulos a consciência, ainda mais do que já era sobrecarregada pelo ambiente midiático cotidiano, para então fazê-la ceder e trazer a tona o inconsciente.


No, Ow, Now - Um dos mantras do USCO


Fontes
Boyle's Family - Site Oficial do artista Mark Boyle
PooterLand - Boyle's family

31 de mai. de 2012

Fifty Foot Hose

Rock psicodélico eletrônico 
Cauldron - 1967

Grupo surgido nos idos de 1966/67 em São Francisco, Califórnia. Seu principal integrante é o baixista Cork Marcheschi. Também contava com Nancy Blossom, David Blossom, Kim Kimsey e Larry Evans.

Marcheschi era aficionado por música de vanguarda (John Cagepor exemplo) e em poesia visual experimental, como o Poème Électroniquede Edgar Varèse e Le Corbusier.



Em Poème Électronique, a estrutura e o ruído capaz de comunicar mensagens de maneira tonal (sem linguagem verbal), em consonância com a sequência 
de fotos, foi uma das coisas que fascinou Marcheschi. 

Uma comunicação instintiva / semi-consciente, para além do dizível.



Além dessas influências, tinham forte interesse no blues e no jazz. Marcheschi, a exemplo da dupla Silver Apples, construía seu próprio aparato de sintetizadores e outros dispositivos dos quais pudesse obter algum efeito.

A diferença em relação ao Silver Apples é que estes possuíam um som mais pop, enquanto que os Fifty Foot Hose eram marcados pela sonoridade californiana, ao estilo Jefferson Airplaneacrescida dos efeitos "espaciais" criados pelos sintetizadores.



Em 1967 lançaram seu único disco, Cauldron. Segundo Marcheschi, em entrevista, a capa brinca com combinações de símbolos alquímicos e da eletrônica, como por exemplo o símbolo de transistores.



Em 1968, a banda chegou ao fim, devido à dificuldade de gravar o segundo disco e também ao convite (aceito por quase todo o grupo) de integrar a equipe do musical Hair



Cork Marcheschi foi o único que não aceitou e partiu para o desenvolvimento de sua carreira de artista plástico.


Fontes

18 de mai. de 2012

Champion Jack Dupree



Nascido em New Orleans, em alguma data da primeira década do século XX, Champion Jack Dupree  teve uma vida longa e turbulenta. Seu apelido Champion se deveu ao fato de ter sido lutador de boxe.


Coletânea

Seu estilo é reconhecido como a marca do Blues de New Orleans: muito boogie-woogie e, por consequência, um blues com ênfase no piano. New Orleans é a terra dos pianistas estadunidenses.


Blues from the Gutter - 1958

Seu estilo de cantar e de tocar o blues é ainda mais característico, um estilo debochado e largado, o que faz de Dupree um autêntico precursor do rock.


Americans in Europe Vol. 2 - 1963

Suas temáticas refletem uma das paixões de sua vida: o Álcool. Boa parte de suas canções é dedicada à bebida e possuem títulos como: Bêbado de novoWhisky ruim e mulher atirada, Bebendo vinho spodie-odie


O termo spodie-odie se refere à uma mistura de vinho barato com soda e suco de fruta.


Garbage Greens -  1963

Sua história de vida é conturbada, ficou órfão na infância por causa de um incêndio criminoso em sua casa, que matou seus pais.

Ao que tudo indica, sua família foi vítima do ódio racial promovido pelo Ku Klux Klan.


....And his Blues Band - 1967

Seu pai era do congo Belga, o que explica a origem francesa de seu sobrenome "Dupree". Sua mãe era afro-americana e também descendente de índios cherokee.


When You Feel The Feeling You Was Feeling - 1968

Em 1940 lançou seu primeiro disco em 78 rotações: Warehouse man blues, seguido de Black woman swing.


The Incredible... Champion Jack Dupree  - 1970

Ainda nos anos 1940, participa da 2º guerra mundial como cozinheiro da Marinha e acaba prisioneiro dos japoneses por dois anos.


King Curtis & Champion Jack Dupree - Blues at Montreux  - 1973

Em 1953, de volta aos EUA, em Nova York, começa a gravar sob vários pseudônimos e em 1958 lança seu álbum de estréia para a grande audiência: Blues from the Gutter.


Forever And Ever - 1991

A partir daí inicia várias turnês e uma peregrinação pela Europa, morando e tocando em vários lugares. Fixa residência na Alemanha, até morrer em 1992, por volta dos 80 anos de idade.




Fontes


11 de mai. de 2012

The Trip

Trippin' as Hell
Direção - Roger Corman


The Trip (1967) é um filme altamente hipnótico que relata a primeira experiência lisérgica de um ansioso diretor de comerciais (Peter Fonda).

Após ingerir LSD, o personagem inicia uma sucessão de poderosas alucinações, sendo uma das maiores a cena em que vaga pelas ruas de uma grande cidade à noite.



A profusão vertiginosa de imagens, a intensidade das luzes noturnas, as sobreposições das visões e a confusão mental do personagem retratam de forma factual os efeitos do LSD, embora também caia no sensacionalismo.

Mas o sensacionalismo não diminui em nada o mérito deste drama, com momentos dignos de Lewis Carrol e Marx Ernst.



Uma das curiosidades sobre a película é que permaneceu sob censura na Inglaterra até 2002. Por quais motivos? Ou por esquecimento, ou por se tratar mesmo de uma obra muito convidativa ao uso da substância.

O Roteiro foi escrito por Jack Nicholson, que interpretou o clássico de Ken Kesey Um estranho no ninho e Easy Rider



Jack Nicholson também fez parte do Elenco de Psych Out, um pastiche Holywoodiano sobre o estilo de vida hippie. Apesar dos clichês, vale a experiencia de ver o filme como um belo retrato do figurino da época.


Cena de The Trip

The Trip foi baseado nas próprias experiencias de Nicholson, interpretadas por Peter Fonda, ator que teria inspirado John Lennon a compor She said, She said, do disco Revolver (1966).

O ocorrido é que Peter Fonda teria dito, após ingerir LSD, que sabia como era estar morto, levando Lennon (que também havia ingerido) à uma experiência não muito agradável.




A trilha sonora ficou por conta da banda norte-americana Electric Flag, que mescla rock, jazz e r&b. 



Fontes


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