23 de ago. de 2012

Fábio

"Lindo Sonho Delirante, hoje eu quero viajar! O Pentágono não sabe que agora é hora de amor."

Cantor nascido no Paraguai em 1946, fixa morada no Brasil no início dos anos 1960 para estudar e tentar a carreira artística.



Batizado Juan Senón Rolon, inicia sua carreira em 1966 sob o nome artístico Juancito, aparecendo em programas da Rádio Record, em São Paulo.



Durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, conhece Carlos Imperial, produtor musical, ator e compositor de sucessos como A Praça, gravada por Ronnie VonFoi Carlos Imperial quem sugeriu à Juancito a mudança de nome artístico, que passou a ser chamado de Fábio.


Fábio - 1969

Sob esta nova alcunha, Fábio muda também a sonoridade romântico-yê-yê-yê para o funk-soul-rock-psicodélico de seu compacto Lindo Sonho Delirante/Reloginho, lançado em 1968.

Esta guinada no estilo se deveu, além do nome, à sólida amizade que o cantor passou a construir com Tim Maia. Fábio o conheceu enquanto se apresentava na Boate Cave, no Rio.


Os Frutos de Mi Tierra - 1972

O compacto LSD é intrigante pelo fato de não ter despertado o interesse da ditadura. Passou despercebido mas também não fez muito sucesso.


Fábio e Joel Stone, idealizador da coletânea
Brazilian Guitar Fuzz bananas

A sigla LSD aparece de modo proeminente na capa e também faz alusão ao famoso trocadilho da canção Lucy in the Sky with Diamonds, dos Beatles, que muitos afirmam não ter sido intencional. No caso de Fábio, o sarcasmo e o trocadilho foram brilhantemente propositais.



Em 1969 é lançado seu primeiro LP, que inclui o seu maior sucesso: Stella, uma canção composta em parceria com Carlos Imperial.




Fontes


2 de ago. de 2012

Joe Meek and The Blue Men


I Hear A New World - 1960 - Joe Meek and the blue men

Joe Meek foi um artista britânico, grande explorador das técnicas de gravação, um engenheiro-programador e mago da produção musical. 



Seu disco de 1960, um EP chamado I Hear a New World (Ouço um Mundo Novo), foi um album vanguardista para a época, sendo considerado um dos pioneiros da música eletrônica.


O estúdio onde realizava suas gravações era um discreto apartamento sobre uma loja de artigos em couro. 


O constante barulho, adorado por Meek, causava o incomodo de alguns traseuntes e também o inevitável desespero dos vizinhos conservadores e ávidos por pudicas noites de sono.

Um documentário sobre a vida incomum de Joe Meek.

Por não ser um músico propriamente dito (ele não tocava, não cantava e nem lia partitura), Joe Meek era acessorado por muitos instrumentistas e outros parceiros de produção. Seu estúdio era uma verdadeira Factory Warholiana de ordem musical.


Outra característica marcante foi seu envolvimento com o ocultismo e também sua frágil condição psicológica. Isto contribuiu para a sua genialidade e visão incomum, mas também para a sua ruína.

Telstar, o Filme

Meek era obcecado por Buddy Holly, era extremamente paranóico e era um caçador de fantasmas, chegando a construir equipamentos de gravação para capturar vozes do além em cemitérios.

Telstar by The tornados

Foi também o responsável pelo início da invasão britânica nas rádios norte-americanas. 

Suas composições Johnny Remember Me e (principalmente) Telstar, gravada pela banda The Tornados, passaram semanas em 1º lugar nas paradas dos EUA.


Joe Meek teve um fim trágico: suicidou-se em 1967, no dia do 8º aniversário da morte de Buddy Holly. Antes de se matar com um tiro, também matou sua arrendatária, Violet Shenton.



Fontes
Adrian Denning - Who is Joe Meek?
Porradobol blogspot - excelente postagem

27 de jul. de 2012

A misteriosa visita de Bob Smith

 álbum singular 
de um incógnito guitarrista
The Visit - 1970
  
Navegando pelo youtube, eis que me deparo com este disco psicodélico lançado em 1970 por um tal de Bob Smith, através do selo Kent Records.


As informações encontradas dizem que se trata de um LP que não recebeu a devida atenção na época de seu lançamento e que contou com um time interessante na produção.


Houveram participações de integrantes da banda de Frank Zappa, e o futuro integrante da dupla Captain & Tennile.


The Visit foi um álbum que mesclou todas as tendencias do rock psicodélico californiano do fim da década de 1960, a exemplo dos trabalhos da banda West Coast Pop Art Experimental Band


Esse amálgama foi um dos motivos da estranheza do álbum para alguns. Isto é um dado interessante, pois já houveram ocorrências de discos assim que foram parar no Limbo.




Houve, posteriormente, uma edição de luxo de The Visit, que conta a história deste disco misterioso:
Stop for a Visit Down Electric Avenue

Em conjunto, foram publicadas faixas exclusivas dos dois álbuns posteriores de Bob Smith, que nunca foram lançados.


Sobre o próprio Bob Smith, quase não se tem informação: quando nasceu, quando começou na música, como foi sua carreira, etc.

Stop for a visit down Electric Avenue - sem data
 
Sabe-se que atuou na Califórnia, especificamente em Los Angeles e transitava pelo underground artístico. Outra informação encontrada é que infelizmente já faleceu, em 2007.

Contra-capa de The Visit - ao menos sabemos quem são os outros musicos

 
Fontes  

25 de jul. de 2012

Light Shows: experiência imersiva lisérgica - parte 3

3º parte: A cor do som, o som da cor e a mágica caleidoscópica
Lumigraph

Um exemplo antiquíssimo da ideia do light show como a tradução (ou equivalência) visual da música, pode ser encontrado no Século 18 através da criação dos 'orgãos coloridos', em inglês, Color Organ.



Isto surge de um desejo primitivo do ser humano de encontrar a cor correspondente ao som; a cor do som, a sinestesia ou a ligação e equivalência entre os sentidos.



A ideia, ou projeto, do color organ era a de que para cada tecla do órgão atribuía-se uma cor. Quando a música era tocada, o bater das teclas descortinaria uma fita colorida ou um vidro colorido,estabelecendo assim a dinâmica visual da música.

Cada cor equivaleria a uma nota musical por meio de suas frequências.


Efeito da Clavilux de Thomas Wilfred 

No século 19, as teorias da cor levantadas pelos Impressionistas e a luz elétrica já permitia pensar em uma tecnologia mais integrada, ideia essa que levaria ao desenvolvimento do cinema.



No século 20, os Color Organs já não dependem mais da existência de um instrumento de verdade, são apenas caixas de led com sensores que captam a vibração de qualquer música e as traduz em cor e movimento.


Lumigraph Film (c. 1969) by Elfriede Fischinger (excerpt) from CVM on Vimeo

Um efeito simples e mágico, a ideia do light show, através da engenharia, assumiu muitas formas, o que foi chamado de cinema expandido por Gene Youngblood.



Mark Boyle e seu Sensual Laboratory fizeram shows lisérgicos em galerias de arte londrinas e no UFO, principal clube da cena psicodélica de Londres. Nestes shows incluíam variados tipos de Color Organs, além da técnica dos projetores e gelatinas coloridas.


USCO: Difrator Hexagonal

Além do UFO e das galerias, acompanharam diversos shows de bandas como Pink Floyd, Soft Machine e Jimi Hendrix Experience. Nada mais, nada menos.



Além do coletivo USCO e do coletivo de Mark Boyle, também tivemos Andy Warhol trabalhando com o mesmo meio.


Exploding Plastic Inevitable

Unindo-se ao Velvet Underground e às suas Superstars, Andy Warhol criou o Exploding Plastic Inevitable.


Exploding Plastic Inevitable

Haviam muitos outros coletivos de Light Show: Sahara Farm, The Joshua Light Show, The North American Ibis Alchemical Co., Retina Circus, e mais uma infinidade. 


Um Livro Raro

Essa era uma arte dionisíaca, baseada na experiência direta e no conhecimento através dos sentidos, completamente não-tecnocrata e sim tecno-psiconauta.




Fontes
Robert E. L. Masters e Jean Houston: Psychedelic Art - Um Livro raro sobre a arte psicodélica
Visual Music - tudo sobre os Color Organs
The Breaks - Oscar Fischinger, o inventor do Lumigraph (ou Color Organ)


20 de jul. de 2012

Light Show: experiência imersiva lisérgica - parte 2

2º Parte: "Saia de sua mente para usar sua cabeça". Ou ainda: A mensagem do meio é o efeito da alucinação
matéria de capa sobre a exposição Us down By the Riverside - 1966

Este sobrecarregar dos sentidos se dava pelo bombardeamento de inúmeros tipos de estímulos: 

Música, ruído, luz estrobo, máquinas que emitiam luzes, poemas luminosos, discos cinéticos, televisores, osciloscópios, poltronas giratórias, pinturas visionárias mescladas a pontos de Led, etc. 

Uma completa sinestesia.


USCO: Fanflashtic, instalação - 1968

Este carregamento sensório era feito com o objetivo de levar a pessoa à um estado alterado de consciência.


USCO: Difrator Triplo - 1964-1966

A base intelectual de muitos dos intuitos do USCO estava centrada nas idéias do professor canadense Marshall McLuhan, famoso pela sua máxima "o meio é a mensagem".


The Joshua Light Show e uma apresentação de Frank Zappa

McLuhan afirma que o impacto causado pelos meios de comunicação são a sua real mensagem, e não o conteúdo que veículam. 



O conteúdo, é claro, pode ser bom ou ruim, mas as transformações sociais geradas pelos meios independem deste conteúdo.


Richard Aldcroft: 'Infinity Projector' - 1966

McLuhan afirma ainda que há meios quentes e meios frios. Os meios quentes tendem a gerar estados hipnóticos pois demandam muita atenção, são meios com muita informação e por isso põem a pessoa num estado passivo. 


Poster de divulgação do clube canadense Retinal Circus -
literalmente Circo da Retina.

Exemplos dados de meio quente são a imprensa escrita e o rádio.



Os meios frios tendem a gerar estados alucinatórios pois demandam participação. Isto porque são meios pobres de informação, ás vezes rústicos, ou porque a imagem ou o som emitido possui pouca qualidade. 


Richard Aldcroft: 'Infinity Projector' - 1966

Nada está definido, exigindo que a pessoa complete a informação ou se esforce mais para compreende-la, gerando assim pleno envolvimento, do qual nem sempre somos conscientes. Exemplos dados de meio frio são o telefone e a TV.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Como vimos, a tecnologia da informação é capaz de alterar nossa percepção do mundo, tal qual os alucinógenos. 


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Por isso, os meios tecnológicos foram os empregados pelos coletivos de Light Shows para fazer com que a consciência normal cedesse, criando assim uma experiencia similar a do LSD, por meio do 
bombardeio de estímulos.

Chamava-se a atenção para o fato de que o ambiente saturado de mídias, em que se vive numa sociedade industrial, é um ambiente de constante
bombardemento sensorial, repleto de mensagens dirigidas a todos os sentidos, grande parte delas produzidas pela Publicidade.



O light show em si é um meio frio, exigindo a participação.

Além do show de luzes propriamente dito, um light show deve contar com música e performances, melhor dizer Happenings, por serem mais espontâneos.



Um dos primeiros happenings psicodélicos foi o de Ken Kesey e seus Merry Pranksters e os famosos testes do ácido: os merry pranksters distribuíam LSD (quando este ainda era Legal) para as pessoas que se aglomeravam nos testes, aos som de Grateful Dead. Uma atitude provocante à CIA e seu MKUltra.


The Joshua Light Show at the Fillmore East

Os Light Shows aconteciam tanto em galerias de arte quanto em shows de rock, clubes e discotecas ou palestras teatrais de Timothy Leary.


USCO: para a instalação Tabernáculo - 1966

São os precursores das raves e de qualquer showzinho de luzes que acompanhe uma apresentação musical.




Continua

1º Parte

Fontes

Light Show: experiência imersiva lisérgica

1º Parte: A desconstrução da consciência através do bombardeamento sinestésico

Mark Boyle's Sensual Laboratory - 1967
Uma das mais populares expressões da vanguarda artística psicodélica, que marcou os âmbitos underground da arte nos anos 1960 foram os light shows (show de luzes).

Os light shows consistiam em projeções coloridas dos mais variados tipos, aliadas à música e à performance, tanto de artistas e músicos quanto do próprio público.


Mark Boyle's Sensual Laboratory - 1967
As projeções eram feitas com gelatina e outros líquidos coloridos, que eram prensados por duas lentes de vidro, colocadas sobre os projetores.

Com o calor da luz as gelatinas derretiam e se misturavam formando manchas coloridas em movimento



A habilidade do artista que montava estas projeções garantia enorme variedade de efeitos caleidoscópicos. 

USCO: Us down by the Riverside

Claro que, em tudo, o acaso e o caos eram elementos seriamente levados em consideração. Outros tipos de light shows eram conseguidos através das luzes estroboscópicas

Mark Boyle e Joan Hills numa de suas projeções fluídas - 1966

Muitas das máquinas usadas para projeção eram especialmente desenvolvidas pelos engenheiros-artistas que sempre compunham os coletivos de Light Shows.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

Dentre os mais famosos estavam o grupo USCO, de Nova Iorque, e o grupo Mark Boyle's Sensual Laboratory, do artista inglês Mark Boyle e sua esposa Joan Hills.


Mark Boyle: Earth, Air, Fire & Water - 1966

USCO era uma abreviação para Us Company (Nós Companhia, ou Companhia de Nós), um coletivo que reunia pintores, poetas, videomakers, engenheiros, performers e vários tipos de artistas.


USCO: Shiva, da instalação Tabernáculo - 1966

Este coletivo foi um dos mais experimentais, levando a experiencia do Light Show para além do encantamento lúdico/hipnótico que promovia aos shows de rock.


Instalação Tabernáculo - 1966

O intuito de suas instalações era o de sobrecarregar de estímulos a consciência, ainda mais do que já era sobrecarregada pelo ambiente midiático cotidiano, para então fazê-la ceder e trazer a tona o inconsciente.


No, Ow, Now - Um dos mantras do USCO


Fontes
Boyle's Family - Site Oficial do artista Mark Boyle
PooterLand - Boyle's family
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